Autenticidade
Se tenho a sombra amiga de sua estima,a aragem tranquila de seus carinhos,
por que hei de entrar no sol escaldante
das inimizades, e sofrer os fortes
vendavais do ódio e do desamor?
Se conto com seu sorriso sincero
para iluminar o caminho de nossa vida,
se tenho sua meiguice para inspirar meus versos,
por que sentir o fingimento de tantos rostos
que se abrem mecanicamente
apenas para preparar um golpe que virá?
Se posso beber na fonte de fé que é você
e me alimentar também de espírito,
por que hei de sorver o fel dos outros,
me transformando num autômato, como tantos?
Se creio na força do bem
e no mundo melhor que ele faz,
apesar de sofrer desenganos
que têm força ciclópica para desmoronar
com as intenções mais fortes,
por que me entregar ao desespero,
render-me às fraquezas que nada constroem?
Se Deus me deu competência,
porque me omitir inativo?
Por que reter só comigo
o produto de tantos talentos,
se há um mundo carente sofrendo,
se há, pertinho de mim, infelizes
a quem posso estender minha mão?
Não, não vou me prender a sistemas,
me envolver em discussões tolas,
esquecendo o importante a fazer.
Quero ser como o Cristo ensinou:
um amigo, um solidário,
do que tem o conforto do mundo,
mas não sente a beleza do espírito,
e de quem nada tem, mas que, pobre,
vive alegre porque sente Deus,
mesmo que ainda lutando em seu nada,
porque espera confiante a subida.
Não, não quero discursos enormes,
eu prefiro deixar os conselhos
pra depois, quando a força do corpo
permitir que eles sejam apreendidos.
Sim, eu quero seguir pela sombra
dos que têm consciência tranquila
e ensinar o caminho seguro
aos irmãos que ainda sofrem
sob o sol escaldante do mal.
243 - (Participante do "Prêmio de Poesia Florbela Espanca". Em 29/08/1995)
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