Por que será?
Por que será que quando estou com você, meu coração deixa sua cadência normal, bate mais forte; a respiração me falta às vezes; sinto-me mais superior, fico mais compenetrado de que sou um homem?
Por que será que quando eu a miro, quando vejo o seu rosto tão femininamente sorrir, quando ouço a sua voz pausada e maviosa, quando sinto a sua esmerada educação, quando olho para o seu corpo minúsculo e delicado, para os seus seios pequeninos, entre os quais balança suavemente a sua medalha com a imagem da Virgem Mãe de Deus... por que será que eu fico mais entusiasmado pela vida?
Por que foi que quando você, tão delicadamente aceitou o primeiro convite para sairmos juntos, que muito temerosamente lhe fiz... por que foi que eu me senti quase um Deus?
Que força é essa que você possui, que me obriga a tê-la, no escritório surgindo por entre as páginas do meu livro de trabalho; na rua ao meu lado, sorrindo, com a graça, com aquela graça tão sua... que até chego a pressentir o seu andar suave e gracioso, e, finalmente, à noite, sendo o lindo sonho que me delicia o sono?
Por que será que eu, um rapaz que jamais pensou em se casar, duvidando encontrar o seu ideal para esposa, hoje me sinto um senhor bem idoso, de tanto pensar nele... na família a constituir... nos filhos e até nos netos?!...
Por que será que cada vez que você vai a alguma lugar... um baile, uma festa, eu fico nervoso, inquieto, sentindo um mal-estar que não explico, pelos galanteios que você, linda como é, certamente ouvirá de outros rapazes, e sinto medo de que você aceite um deles?...
Por que será que tudo em você, que é seu ou de que você goste, eu considero lindo, meu também, e, também, do meu gosto?
Por que será?
Você saberá me dizer, por quê?
(Rio, 1944)
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