Não era a mais bela de toda a fazenda
Mas todos a tinham em conta de prenda
Que só gente fina poderia ter.
Gostava de um negro, mas não revelava,
Pois com seu silêncio, seu negro livrava
De mil sofrimentos, e até de o perder.
Mas tão atraente atraía de fato
E embora vivesse com todo o recato
Não tinha por onde esconder a beleza,
E ao vê-la, quem visse, não resistiria
E tendo poderes, a ela faria
Propostas de amor em graus de baixeza
Chegado já homem da grande cidade,
Pra onde seguira com 12 de idade,
Estava o pedante filho do Senhor,
Olhou a pequena, sentiu-se nervoso,
Pensou, prontamente, num plano engenhoso
Para conquistar da mulata o amor.
Mas não lhe ocorreu que a mulata guardava
Seu sonho de amor para o negro que amava
E ouviu, revoltado, o "não" que ela deu.
Irado, humilhado, chamou o feitor:
- Se ela me nega, por bem, seu amor,
Pedindo clemência esse amor será meu.
Com seco estalido, ia velha chibata
Fazendo no corpo da linda mulata
Os sulcos sangrentos, retrato da dor.
E embora calada, sofrendo, gemendo,
Baixinho, chorando, insistia dizendo:
- Em vida, não dou este corpo ao senhor.
E estava no tronco, já toda caída
Com o sangue a escorrer-lhe, numa só ferida.
E a língua de couro cortando ainda mais,
De súbito, um tiro surgiu e, certeiro,
Prostrou o algoz, que se contorce inteiro
E, caindo ferido, não se erguerá jamais.
Os negros que estavam de longe escondidos,
Saíram ao terreiro meio espavoridos:
- Que foi que fizeram com nosso feitor?
Ninguém deu resposta, ninguém disse nada.
Mas a explicação para a turba espantada
Surgiu do revólver, na mão do feitor!
(Niterói/1963)
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Eu pensei que você
Estivesse brincando
Quando disse que
Estava chorando,
Que ia embora
Pra não mais voltar
Francamente,
Não pensei que dissesse
A verdade.
Sei, agora, por esta saudade,
Que, teimosa, não quer me deixar
(25/10/1963)
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