quarta-feira, 31 de maio de 2023

Esta jarra e estas flores

Para o maior dos amores

Que Deus nos deu de presente!

Que a mamãe viva bastante

E que esteja a todo instante

Bem ao alcance da gente!


                                   Zélia, Iberê, Rui, Renato, Inês, Carlos e Moema


(Dia das Mães, Maio/1961)       


841 - 

Eu quero descansar

De sofrer tanto...

Quero encontrar

A poltrona do sossego

E descalçar esta saudade apertada!



Nota do Editor: Na mesma página das anotações do autor estava esta outra poesia a seguir, mas riscada. A postamos aqui, no entanto, pois não vimos motivo de a excluir. Como ele começa uma suposta enumeração, talvez pretendesse terminar a poesia depois:



Há muita coisa no mundo

Que eu gosto de admirar.

A primeira destas coisas

É este seu lindo olhar!

                                   

(Niterói/1962)       


840 - 

Não era a mais bela de toda a fazenda

Mas todos a tinham em conta de prenda

Que só gente fina poderia ter.

Gostava de um negro, mas não revelava,

Pois com seu silêncio, seu negro livrava

De mil sofrimentos, e até de o perder.


Mas tão atraente atraía de fato

E embora vivesse com todo o recato

Não tinha por onde esconder a beleza,

E ao vê-la, quem visse, não resistiria

E tendo poderes, a ela faria

Propostas de amor em graus de baixeza


Chegado já homem da grande cidade,

Pra onde seguira com 12 de idade,

Estava o pedante filho do Senhor,

Olhou a pequena, sentiu-se nervoso,

Pensou, prontamente, num plano engenhoso

Para conquistar da mulata o amor.


Mas não lhe ocorreu que a mulata guardava

Seu sonho de amor para o negro que amava

E ouviu, revoltado, o "não" que ela deu.

Irado, humilhado, chamou o feitor:

- Se ela me nega, por bem, seu amor,

Pedindo clemência esse amor será meu.


Com seco estalido, ia velha chibata

Fazendo no corpo da linda mulata

Os sulcos sangrentos, retrato da dor.

E embora calada, sofrendo, gemendo,

Baixinho, chorando, insistia dizendo:

- Em vida, não dou este corpo ao senhor.


E estava no tronco, já toda caída

Com o sangue a escorrer-lhe, numa só ferida.

E a língua de couro cortando ainda mais,

De súbito, um tiro surgiu e, certeiro,

Prostrou o algoz, que se contorce inteiro

E, caindo ferido, não se erguerá jamais.


Os negros que estavam de longe escondidos,

Saíram ao terreiro meio espavoridos:

- Que foi que fizeram com nosso feitor?

Ninguém deu resposta, ninguém disse nada.

Mas a explicação para a turba espantada

Surgiu do revólver, na mão do feitor!

                                   

(Niterói/1963)       


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Eu pensei que você

Estivesse brincando

Quando disse que

Estava chorando,

Que ia embora

Pra não mais voltar


Francamente,

Não pensei que dissesse

A verdade.

Sei, agora, por esta saudade,

Que, teimosa, não quer me deixar


                                     (25/10/1963)


839 - 

Feliz Páscoa, mamãezinha

Desejamos a você.

O papai, eu - a Zelinha,

O Ruizinho e o Iberê.


A Ilara também envia

Lá do céu, onde ela mora,

Radiante de alegria,

Um beijinho pra senhora!

                                   

(Rio/1952)       


838 - 

Parabéns ao casalzinho

Que hoje demonstra em seu ninho

O quanto entende de amor!

Há 25 casados

São os mesmos namorados!

Que abençoe o Senhor!

                                   

(Rio/1959)       


837 - 

Gosto de chuva miúda

Da chuva forte também,

Para mim, a chuva é um presente

Que lá do alto nos vem,

E quem fala mal da chuva,

Por certo não pensa bem.


A chuva é que molha a terra

Pra gente poder plantar,

Pra nascer o capim verde,

Que é pro boi poder pastar.

A chuva revive o rio

Pra gente canalizar,

Trazendo a água pra casa

Pro banho, pra cozinhar.

A chuva é que enche o açude

Pra ninguém se retirar.


Meu Deus, como é que da chuva

Alguém pode reclamar?!

                                   

                                                Rio/1952         


Nota do Editor: A primeira estrofe dessa poesia foi repetida anos depois e postamos a seguir: 

  

Gosto da chuva miúda,
da chuva forte, também,
pra mim a chuva é um presente
que lá do alto nos vem,
e quem fala mal da chuva,
por certo não pensa bem!

Às vezes vem chuva forte,
muita água, de pancada,
afoga a lavoura inteira,
a terra fica chagada

Mas, é vontade de Deus,
de Deus não reclamo nada,
depois tudo acaba bem,
e eu volto para minha enxada!


                                   8 de fevereiro de 1989                                      


836 - 

Você precisa

Ver se fica mais mansinho,

Mau humor é mau caminho

Pra quem deseja vencer.

Veja se esfria

Um pouco essa cabeça quente

E seja bem mais prudente

Na maneira de dizer!


A vida é boa

E será sempre agradável

Se você for razoável,

Se souber condescender.

Com bom humor

Você resolve num segundo

O que levaria um mundo

Com raiva pra resolver

                                   

(Rio/1957)                                                   


835 - 

Amizade, simpatia,

Atração, seja o que for,

Mas, o que você me tem,

Meu bem,

Não é, nunca, foi amor!


Amor é coisa mais séria,

É coisa bem diferente,

Mesmo machucando muito,

Vibra aqui dentro da gente.


Você só pensa em você,

Não me dá nenhum valor,

Nem por mim, nem pra ninguém,

Meu bem,

Isso daí não é amor!

                                   

(Janeiro/1958)                                                   


834 - 

É ou não é


Não é bonita,

Mas é de uma simpatia

Que me prende, me extasia,

Me deixa até sem ação.

Não é bonita,

Mas que voz linda que tem,

E como ela fala bem,

Que poder de sedução!


Não é bonita,

Mas que cabelos sedosos

E como são preciosos

Os seus gestos, no falar.

Faltar beleza

Em quem já é tão prendada,

Francamente, é faltar nada

Pra quem tenha bem pensar.


Minha esperança

É que ela descubra um dia

Que é toda minha alegria,

Minha sagrada ambição,

Sem lhe falar,

Pois, seria atrevimento,

Já lhe dei em pensamento,

Inteiro meu coração!

                                   

(Rio, Dezembro/1957)                                                   


833 - 

O amor que você oferece

É amor de imitação,

Nasce e morre só no corpo,

Jamais chega ao coração.

Amor assim, não me serve.

Pra mim, assim não é bom,

Termina sempre que acaba

O gostinho do batom!

                                   

(Niterói, 1963)                                                   


832 - 

Fecharam o paletó do meu Raimundo,

Me deixaram neste mundo

Viúva, pobre, sem nada.

E o desgraçado do Maneco Pequenino,

O bandido do assassino,

Diz que eu também tô jurada!

Eu vô torrá o meu barraco e vô me embora,

É o melhor que eu faço agora

Pra saí dessa galhada!


Pra mim, o morro já não tem tranquilidade,

Vou-me embora pra cidade,

Eu preciso me virá!

Raimundo foi,

Mas me deixô um Raimundinho

Já no meio do caminho,

Que eu quero e hei de criar.


Estou por fora nesta história de instrução,

O luxo da educação,

Da escola, não me sobrou.

Mas sei andar direito em qualquer canto,

Conheço bem, de longe, o mau e o santo.

Sei bem qual o caminho por onde vou.

                                     

(Niterói, 1963)                                                   


831 - 

Por favor, não me fale em tristeza,

De tristeza eu já me fartei,

Chega tanta amargura que eu tive

E as lágrimas que eu já chorei.


Hoje eu quero, somente, alegrias

E hei de ter um viver diferente,

Preparando um futuro vizinho,

Um vizinho e tranquilo presente!

                                     

                                  (Niterói, 1963) 


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Tento sempre ter só bons caminhos,

Mas já estou cansando da procura.

Não encontro as fontes de carinhos

E bebo só taças de amargura.


Bem que eu gostaria de não ser assim,

Mas é uma questão de natureza.

Saio sempre em busca da alegria, mas no fim,

Meu encontro é sempre com a tristeza!


                                                     (Sem data)


Nota do Editor: Esse poema acima tem outra versão, bem parecida, que postamos a seguir:


Bem que eu gostaria
De não ser assim,
Mas é uma questão de natureza,
Saio sempre em busca da alegria,
Mas no fim
Meu encontro é sempre com a tristeza.

Vale em mim é que não sou descrente,
Tenho fé em Deus que um dia vou mudar,
Vou saber sorrir, viver contente,
Conhecendo a hora de chorar!

                                                       (1965)                                           



830 - 

Menina bonita

Que a chuva prendeu

Por trás da vidraça,

Que não acha graça

De ter que ficar

Quietinha lá dentro,

Sem poder brincar!


Menina bonita

Que morde o dedinho

E pede ao Senhor

Que faça o favor

De ao Sol ordenar

Que venha depressa

A rua secar!


Menina bonita

Não se desespere

Não fique sem graça

A chuva já passa

Mas, se não passar

                                         (Continua)


(Sem indicação de local e data, mas na sequência de Rio, 1946. O autor, ao que parece, continuaria a composição, mas não o fez.)                                                   


829 - 

O nosso amor não deve

Ser um suplício.

Você não deve dizer

O que você não sentir.

Seja sincera,

Seja você.

Assim será

Melhor para nós dois.


Que jamais sua boca

Minta, querida.

Que você nunca faça

Nada que não for leal.

Seja sincera,

Seja você.

Assim será 

Melhor pra nós dois.


Quero-a com todo amor,

Mas, se um dia

Você não me quiser,

Use de toda a franqueza,

Seja sincera,

Seja você.

Assim será

Melhor pra nós dois!


                                            (Rio, 1946)       


Nota do Editor: Esta mesma poesia, com a mesma data, tem essa outra versão:


O nosso amor não deve

Ser um suplício.

Você não deve dizer

O que você não sentir


Seja sincera,

Seja você.

Assim será

Melhor pra nós dois


Por que dizes mentindo

Que me quer tanto

Se nos seus olhos vejo

O esforço dessa mentira


Seja sincera

Seja você

Assim será

Melhor pra nós dois


                                            


828 - 

Quem é?


Rosto de pedra, sério em demasia,

Atrai, injustamente antipatia

De quem o não conhece como eu.

Redige nos estilos mais diversos.

Somente falha quando fala em versos,

Que, na verdade, bem, nunca escreveu.

                                                    (Koniski)


Quem é?


De fato, é inteligente esse rapaz!

Em tudo que ele diz ou que ele faz,

Sabe, sempre, mostrar o seu talento!

Adora, loucamente, os bacanais...

Imita muito bem os anormais...

No entanto, diz que é macho cem por cento!

                                                               (Jeová)


Quem é?


É bom ator e para se alegrar,

Basta sobre teatro lhe falar,

Dando-lhe chance de falar também.

Trabalha, aqui, conosco, na Eldorado,

Nas horas vagas, vira advogado,

Mostrando defender-se muito bem!

                                                    (Couto)


Quem é?


É escritor, poeta e jornalista,

Pinta sem nada ter de modernista,

Sendo invejável sua condição.

Até no nome, seu gênio aparece!

Por tudo isso está (bem o merece)

Tomando conta desta redação!

                                           (Eugênio)


(Rio, 1954 - Rádio Eldorado)


Nota do Editor: Todas essas poesias, com o mesmo título, mesmo local e ano, e tendo um nome próprio diferente ao final, certamente referem-se aos colegas de trabalho cujas características o autor quis enumerar e com os quais trabalhava em seu tempo de redator e locutor na já extinta Rádio Eldorado-AM. Como compõem uma unidade temática, preferimos agrupá-las num tópico apenas.



827 - 

terça-feira, 30 de maio de 2023

Homenagem


Nós todas aqui estamos,

Viemos juntas, agora,

Para dizer que gostamos

Muito, muito da senhora!


Este dia festejamos

Com o coração pra fora,

Coração que nós lhe damos

De coração nesta hora!


Desculpe as nossas faltinhas,

De todas elas... e as minhas!

Nós lhe pedimos perdão!


E que Deus, Nosso Senhor

Recompense o seu amor,

A sua dedicação!


(Dia da Professora, Niterói, 15/05/1963. Para Inês recitar)


826 - 

Pra quem não pode dispor

De tempo para a TV,

Há que haver um transistor...

E é o que temos pra você!


(Dia das Mães, Niterói, 12/05/1963)


825 - 

Ontem você procurou-me

Chorando e dizendo,

Que não podia viver

Esta vida sem mim.

Hoje você volta e diz

Coisas que eu não entendo

E ainda termina dizendo

- Foi melhor assim!



Nota do Editor: Esta poesia estava anotada pelo autor em um todo com o texto que se segue, mas achamos que devam ser duas poesias que apenas estavam anotadas em sequência e sem espaço as separando, pois nos parecem dois conteúdos totalmente distintos.



Eu pedi ao Criador

Que me desse um grande amor

E Ele me atendeu.

Escolheu detidamente,

Pois viu que sou exigente,

Pegou você e me deu!


E pra evitar que eu pudesse

Fazer, queixoso, outra prece,

Adiantou-se na jogada.

A consequência está clara:

Começou com nossa Ilara...

E deu nesta filharada!


(Niterói, 05/1963)


824 - 

Acharam que a vida cara

Era para a Guanabara

Muito pouco sofrimento.

Lembraram-se da energia

E para acabar com a alegria,

Fizeram o racionamento.


Em vez de se aborrecer,

O carioca fez ver

Que tem mesmo bom humor.

Começou a fazer troça

Revelando sua bossa

Velha ou nova, em que é doutor!


Surgiram então as piadas

Como a dos dois camaradas

Que queriam passear:

- Não se esqueça, lá na esquina,

Logo depois que termina

O "escurinho" do lugar.


As velas e lampiões

Vieram logo aos montões

Como boa solução,

E aqueles que vão à rua,

Sem contar muito com a Lua,

Levam "flash light" à mão.


Há o grupo opositor,

Que culpa o governador

Pelo corte da energia.

Mas esse não tem razão,

É o bloco da oposição,

Sem base, só por mania!

                     

                              (Rio, 05/1963)


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Rio, meu Rio de Janeiro,

Grande aniversariante,

És nome no mundo inteiro,

Justo orgulho do Gigante


Rio, minha Cidade-Estado

Também, também quero te dar

O meu abraço apertado

Pelos 4 Centenários

Que hoje tu vês passar!


E num beijo

Te desejo

Que sejas sempre feliz,

São teus os predicados,                                  {BIS

Pra ser dentre os Estados

A eterna capital do meu pais


                                         (1964)


823 - 

APRESENTAÇÃO DO BLOG

Família de Guimarães Nato, nome profissional do jornalista e escritor Renato Guimarães (1924 - 2000), inicia agora o blog com as poesias, prosas e demais textos literários e diversos outros que ele deixou. (15/02/2018)

A família de Guimarães Nato, nome profissional do jornalista e escritor Renato Guimarães (1924 - 2000), inicia agora o blog com as poesias,...