Esta jarra e estas flores
Para o maior dos amores
Que Deus nos deu de presente!
Que a mamãe viva bastante
E que esteja a todo instante
Bem ao alcance da gente!
Zélia, Iberê, Rui, Renato, Inês, Carlos e Moema
(Dia das Mães, Maio/1961)
841 -
Eu quero descansar
De sofrer tanto...
Quero encontrar
A poltrona do sossego
E descalçar esta saudade apertada!
Nota do Editor: Na mesma página das anotações do autor estava esta outra poesia a seguir, mas riscada. A postamos aqui, no entanto, pois não vimos motivo de a excluir. Como ele começa uma suposta enumeração, talvez pretendesse terminar a poesia depois:
Há muita coisa no mundo
Que eu gosto de admirar.
A primeira destas coisas
É este seu lindo olhar!
(Niterói/1962)
840 -
Não era a mais bela de toda a fazenda
Mas todos a tinham em conta de prenda
Que só gente fina poderia ter.
Gostava de um negro, mas não revelava,
Pois com seu silêncio, seu negro livrava
De mil sofrimentos, e até de o perder.
Mas tão atraente atraía de fato
E embora vivesse com todo o recato
Não tinha por onde esconder a beleza,
E ao vê-la, quem visse, não resistiria
E tendo poderes, a ela faria
Propostas de amor em graus de baixeza
Chegado já homem da grande cidade,
Pra onde seguira com 12 de idade,
Estava o pedante filho do Senhor,
Olhou a pequena, sentiu-se nervoso,
Pensou, prontamente, num plano engenhoso
Para conquistar da mulata o amor.
Mas não lhe ocorreu que a mulata guardava
Seu sonho de amor para o negro que amava
E ouviu, revoltado, o "não" que ela deu.
Irado, humilhado, chamou o feitor:
- Se ela me nega, por bem, seu amor,
Pedindo clemência esse amor será meu.
Com seco estalido, ia velha chibata
Fazendo no corpo da linda mulata
Os sulcos sangrentos, retrato da dor.
E embora calada, sofrendo, gemendo,
Baixinho, chorando, insistia dizendo:
- Em vida, não dou este corpo ao senhor.
E estava no tronco, já toda caída
Com o sangue a escorrer-lhe, numa só ferida.
E a língua de couro cortando ainda mais,
De súbito, um tiro surgiu e, certeiro,
Prostrou o algoz, que se contorce inteiro
E, caindo ferido, não se erguerá jamais.
Os negros que estavam de longe escondidos,
Saíram ao terreiro meio espavoridos:
- Que foi que fizeram com nosso feitor?
Ninguém deu resposta, ninguém disse nada.
Mas a explicação para a turba espantada
Surgiu do revólver, na mão do feitor!
(Niterói/1963)
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Eu pensei que você
Estivesse brincando
Quando disse que
Estava chorando,
Que ia embora
Pra não mais voltar
Francamente,
Não pensei que dissesse
A verdade.
Sei, agora, por esta saudade,
Que, teimosa, não quer me deixar
(25/10/1963)
839 -
Gosto de chuva miúda
Da chuva forte também,
Para mim, a chuva é um presente
Que lá do alto nos vem,
E quem fala mal da chuva,
Por certo não pensa bem.
A chuva é que molha a terra
Pra gente poder plantar,
Pra nascer o capim verde,
Que é pro boi poder pastar.
A chuva revive o rio
Pra gente canalizar,
Trazendo a água pra casa
Pro banho, pra cozinhar.
A chuva é que enche o açude
Pra ninguém se retirar.
Meu Deus, como é que da chuva
Alguém pode reclamar?!
Rio/1952
Nota do Editor: A primeira estrofe dessa poesia foi repetida anos depois e postamos a seguir:
8 de fevereiro de 1989
836 -
Você precisa
Ver se fica mais mansinho,
Mau humor é mau caminho
Pra quem deseja vencer.
Veja se esfria
Um pouco essa cabeça quente
E seja bem mais prudente
Na maneira de dizer!
A vida é boa
E será sempre agradável
Se você for razoável,
Se souber condescender.
Com bom humor
Você resolve num segundo
O que levaria um mundo
Com raiva pra resolver
(Rio/1957)
835 -
Amizade, simpatia,
Atração, seja o que for,
Mas, o que você me tem,
Meu bem,
Não é, nunca, foi amor!
Amor é coisa mais séria,
É coisa bem diferente,
Mesmo machucando muito,
Vibra aqui dentro da gente.
Você só pensa em você,
Não me dá nenhum valor,
Nem por mim, nem pra ninguém,
Meu bem,
Isso daí não é amor!
(Janeiro/1958)
834 -
É ou não é
Não é bonita,
Mas é de uma simpatia
Que me prende, me extasia,
Me deixa até sem ação.
Não é bonita,
Mas que voz linda que tem,
E como ela fala bem,
Que poder de sedução!
Não é bonita,
Mas que cabelos sedosos
E como são preciosos
Os seus gestos, no falar.
Faltar beleza
Em quem já é tão prendada,
Francamente, é faltar nada
Pra quem tenha bem pensar.
Minha esperança
É que ela descubra um dia
Que é toda minha alegria,
Minha sagrada ambição,
Sem lhe falar,
Pois, seria atrevimento,
Já lhe dei em pensamento,
Inteiro meu coração!
(Rio, Dezembro/1957)
833 -
Fecharam o paletó do meu Raimundo,
Me deixaram neste mundo
Viúva, pobre, sem nada.
E o desgraçado do Maneco Pequenino,
O bandido do assassino,
Diz que eu também tô jurada!
Eu vô torrá o meu barraco e vô me embora,
É o melhor que eu faço agora
Pra saí dessa galhada!
Pra mim, o morro já não tem tranquilidade,
Vou-me embora pra cidade,
Eu preciso me virá!
Raimundo foi,
Mas me deixô um Raimundinho
Já no meio do caminho,
Que eu quero e hei de criar.
Estou por fora nesta história de instrução,
O luxo da educação,
Da escola, não me sobrou.
Mas sei andar direito em qualquer canto,
Conheço bem, de longe, o mau e o santo.
Sei bem qual o caminho por onde vou.
(Niterói, 1963)
831 -
Por favor, não me fale em tristeza,
De tristeza eu já me fartei,
Chega tanta amargura que eu tive
E as lágrimas que eu já chorei.
Hoje eu quero, somente, alegrias
E hei de ter um viver diferente,
Preparando um futuro vizinho,
Um vizinho e tranquilo presente!
(Niterói, 1963)
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Tento sempre ter só bons caminhos,
Mas já estou cansando da procura.
Não encontro as fontes de carinhos
E bebo só taças de amargura.
Bem que eu gostaria de não ser assim,
Mas é uma questão de natureza.
Saio sempre em busca da alegria, mas no fim,
Meu encontro é sempre com a tristeza!
(Sem data)
Nota do Editor: Esse poema acima tem outra versão, bem parecida, que postamos a seguir:
(1965)
830 -
Menina bonita
Que a chuva prendeu
Por trás da vidraça,
Que não acha graça
De ter que ficar
Quietinha lá dentro,
Sem poder brincar!
Menina bonita
Que morde o dedinho
E pede ao Senhor
Que faça o favor
De ao Sol ordenar
Que venha depressa
A rua secar!
Menina bonita
Não se desespere
Não fique sem graça
A chuva já passa
Mas, se não passar
(Continua)
(Sem indicação de local e data, mas na sequência de Rio, 1946. O autor, ao que parece, continuaria a composição, mas não o fez.)
829 -
O nosso amor não deve
Ser um suplício.
Você não deve dizer
O que você não sentir.
Seja sincera,
Seja você.
Assim será
Melhor para nós dois.
Que jamais sua boca
Minta, querida.
Que você nunca faça
Nada que não for leal.
Seja sincera,
Seja você.
Assim será
Melhor pra nós dois.
Quero-a com todo amor,
Mas, se um dia
Você não me quiser,
Use de toda a franqueza,
Seja sincera,
Seja você.
Assim será
Melhor pra nós dois!
(Rio, 1946)
Nota do Editor: Esta mesma poesia, com a mesma data, tem essa outra versão:
O nosso amor não deve
Ser um suplício.
Você não deve dizer
O que você não sentir
Seja sincera,
Seja você.
Assim será
Melhor pra nós dois
Por que dizes mentindo
Que me quer tanto
Se nos seus olhos vejo
O esforço dessa mentira
Seja sincera
Seja você
Assim será
Melhor pra nós dois
828 -
Quem é?
Rosto de pedra, sério em demasia,
Atrai, injustamente antipatia
De quem o não conhece como eu.
Redige nos estilos mais diversos.
Somente falha quando fala em versos,
Que, na verdade, bem, nunca escreveu.
(Koniski)
Quem é?
De fato, é inteligente esse rapaz!
Em tudo que ele diz ou que ele faz,
Sabe, sempre, mostrar o seu talento!
Adora, loucamente, os bacanais...
Imita muito bem os anormais...
No entanto, diz que é macho cem por cento!
(Jeová)
Quem é?
É bom ator e para se alegrar,
Basta sobre teatro lhe falar,
Dando-lhe chance de falar também.
Trabalha, aqui, conosco, na Eldorado,
Nas horas vagas, vira advogado,
Mostrando defender-se muito bem!
(Couto)
Quem é?
É escritor, poeta e jornalista,
Pinta sem nada ter de modernista,
Sendo invejável sua condição.
Até no nome, seu gênio aparece!
Por tudo isso está (bem o merece)
Tomando conta desta redação!
(Eugênio)
(Rio, 1954 - Rádio Eldorado)
Nota do Editor: Todas essas poesias, com o mesmo título, mesmo local e ano, e tendo um nome próprio diferente ao final, certamente referem-se aos colegas de trabalho cujas características o autor quis enumerar e com os quais trabalhava em seu tempo de redator e locutor na já extinta Rádio Eldorado-AM. Como compõem uma unidade temática, preferimos agrupá-las num tópico apenas.
827 -
Homenagem
Nós todas aqui estamos,
Viemos juntas, agora,
Para dizer que gostamos
Muito, muito da senhora!
Este dia festejamos
Com o coração pra fora,
Coração que nós lhe damos
De coração nesta hora!
Desculpe as nossas faltinhas,
De todas elas... e as minhas!
Nós lhe pedimos perdão!
E que Deus, Nosso Senhor
Recompense o seu amor,
A sua dedicação!
(Dia da Professora, Niterói, 15/05/1963. Para Inês recitar)
826 -
Ontem você procurou-me
Chorando e dizendo,
Que não podia viver
Esta vida sem mim.
Hoje você volta e diz
Coisas que eu não entendo
E ainda termina dizendo
- Foi melhor assim!
Nota do Editor: Esta poesia estava anotada pelo autor em um todo com o texto que se segue, mas achamos que devam ser duas poesias que apenas estavam anotadas em sequência e sem espaço as separando, pois nos parecem dois conteúdos totalmente distintos.
Eu pedi ao Criador
Que me desse um grande amor
E Ele me atendeu.
Escolheu detidamente,
Pois viu que sou exigente,
Pegou você e me deu!
E pra evitar que eu pudesse
Fazer, queixoso, outra prece,
Adiantou-se na jogada.
A consequência está clara:
Começou com nossa Ilara...
E deu nesta filharada!
(Niterói, 05/1963)
824 -
Acharam que a vida cara
Era para a Guanabara
Muito pouco sofrimento.
Lembraram-se da energia
E para acabar com a alegria,
Fizeram o racionamento.
Em vez de se aborrecer,
O carioca fez ver
Que tem mesmo bom humor.
Começou a fazer troça
Revelando sua bossa
Velha ou nova, em que é doutor!
Surgiram então as piadas
Como a dos dois camaradas
Que queriam passear:
- Não se esqueça, lá na esquina,
Logo depois que termina
O "escurinho" do lugar.
As velas e lampiões
Vieram logo aos montões
Como boa solução,
E aqueles que vão à rua,
Sem contar muito com a Lua,
Levam "flash light" à mão.
Há o grupo opositor,
Que culpa o governador
Pelo corte da energia.
Mas esse não tem razão,
É o bloco da oposição,
Sem base, só por mania!
(Rio, 05/1963)
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Rio, meu Rio de Janeiro,
Grande aniversariante,
És nome no mundo inteiro,
Justo orgulho do Gigante
Rio, minha Cidade-Estado
Também, também quero te dar
O meu abraço apertado
Pelos 4 Centenários
Que hoje tu vês passar!
E num beijo
Te desejo
Que sejas sempre feliz,
São teus os predicados, {BIS
Pra ser dentre os Estados
A eterna capital do meu pais
(1964)
823 -
A família de Guimarães Nato, nome profissional do jornalista e escritor Renato Guimarães (1924 - 2000), inicia agora o blog com as poesias,...